Distribuidoras de energia elétrica miram o empoderamento do consumidor e investem em inovação dos serviços

O segmento, que representa o elo final da cadeia da energia até o consumidor, foca investimentos em novas modalidades de serviços.

Dados das Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE) mostram que, nos últimos anos, as empresas do segmento investiram, anualmente, entre R$ 18 e R$ 20 bilhões nas redes elétricas de distribuição em todo o país. São 3,9 milhões de quilômetros de redes de distribuição, que conectam a energia das geradoras de diversas fontes, escoada pelas grandes linhas transmissoras, até os consumidores finais. De olho na modernização dos negócios, as distribuidoras têm investido cada vez mais em digitalização e automação das redes, inserção de ferramentas de medição inteligente, além de instrumentos que possibilitam a melhoria da comunicação e do relacionamento com os clientes.

Segundo o presidente da ABRADEE, Marcos Madureira, os investimentos são focados em redes mais modernas e seguras, além de implantação de equipamentos de automação, como o self healing (sistema de identificação de possíveis falhas e reconexão automática das redes) e sensores de digitalização que medem a qualidade e a continuidade do serviço. “Tudo isso tem se mostrado nos resultados de melhoria contínua aferida pelos indicadores da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). A média de interrupções e o tempo de duração destas interrupções vêm sendo reduzidos de forma sustentada a cada ano, em benefício dos consumidores”.

No levantamento divulgado neste ano, a ANEEL revelou que a qualidade do serviço de distribuição de energia elétrica alcançou, em 2022, o melhor resultado desde o início do acompanhamento pela agência. Os indicadores DEC (duração das interrupções) e FEC (frequência das interrupções) registraram os menores índices, ficando ainda abaixo dos limites definidos pela agência. O fornecimento de eletricidade permaneceu disponível por 99,88% do tempo, em média, no Brasil.

Inovação

Atentas às transformações do mercado e às novas necessidades dos consumidores, as empresas de distribuição vêm lançando importantes iniciativas visando à modernização dos serviços prestados. Um deles é o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento realizado pela ABRADEE juntamente com a Aneel, chamado Governança de Sandboxes Tarifários. Coordenador do projeto, o gerente de Planejamento e Inteligência de Mercado da ABRADEE, Lindemberg Reis, explica que se trata de ambientes de experimentação em que a agência reguladora autoriza as distribuidoras a fazerem projetos-piloto em condições especiais para o desenvolvimento de faturamentos diferenciados dos consumidores de energia elétrica. A iniciativa traz oportunidades e aprendizados fundamentais para aperfeiçoamentos regulatórios e beneficia o consumidor, na medida em que busca formas de melhorar o sinal de preço da energia e do sistema elétrico.

“A modernização das tarifas de energia elétrica é mandatória nos dias atuais. Temos que promover o maior protagonismo dos usuários de energia elétrica, que estão cada dia mais ativos: aquele consumidor que apenas paga a conta de energia é coisa do passado. E, nesse intuito, as distribuidoras de energia elétrica estão empenhando todos os esforços para fazer testes tarifários em amostras de seus consumidores. Esses exercícios permitirão coletar dados e informações para aprimorar a proposta regulatória de reestruturação das tarifas de energia elétrica no Brasil”, observa Reis.

Nesse mesmo sentido de modernização do segmento, outra iniciativa é a parceria entre a ABRADEE e a Agência Norte-Americana de Comércio e Desenvolvimento (USTDA) para o desenvolvimento de um projeto que estuda os melhores caminhos para o Brasil implementar smart grids (redes inteligentes) nos sistemas de distribuição de energia elétrica. “Basicamente, avaliamos quais são os principais custos e benefícios de algumas tecnologias potenciais em face do nível de amadurecimento de nossas redes, bem como procedemos com uma avaliação das principais barreiras regulatórias, normativas e legais que nos impedem de desenvolver mais velozmente o grid”, explica o gerente de Planejamento e Inteligência de Mercado da ABRADEE.

Lindemberg Reis conta que a USTDA financiou o projeto e a execução ficou a cargo de consultorias internacionais, com apoio de corpo técnico consultivo nacional. “Ou seja, um projeto globalizado para promover o desenvolvimento de nosso segmento de distribuição de energia elétrica”, observa.

Para Madureira, as iniciativas se mostram ainda mais importantes quando se observa a diversidade de um país de proporções continentais. “O Brasil possui diferentes realidades e dentro dele temos um robusto sistema interligado nacional, o SIN, em que a energia gerada em diferentes localidades pode ser distribuída de Norte a Sul. E, no âmbito da distribuição, as empresas convivem com uma enorme diferença em cada lugar do Brasil. Enquanto temos regiões com alta concentração de carga (energia), por exemplo, outras são isoladas, não estão conectadas ao sistema e podem ser abastecidas de forma segura. São vários desafios, mas que não impedem que, por meio de novas tecnologias, o serviço seja prestado com qualidade e preços mais justos para todos. Nesse contexto, por exemplo, conseguimos integrar e viabilizar as diversas fontes e de geração de energia renovável, como solar, eólica, além da geração distribuída (geração própria de energia)”.

Transição Energética

Segundo o presidente da ABRADEE, muito se fala em transição energética e ampliação das fontes renováveis na matriz elétrica e, para que esse processo ocorra, as distribuidoras desempenham um papel fundamental. “As redes elétricas possibilitam a formação de um mix de todas as fontes injetadas no sistema, que possam se desenvolver e chegar até o consumidor. E, ainda, as empresas têm focado em melhorias de aplicação e mecanismos de gestão dos recursos energéticos distribuídos”, destaca Madureira.

Ele lembra que as redes elétricas viabilizaram, por exemplo, que a Geração Distribuída (de fonte majoritariamente solar fotovoltaica) tenha atingido recentemente o patamar recorde de 23 GW de potência instalada no sistema elétrico brasileiro, colocando a fonte solar no segundo lugar da matriz elétrica, atrás somente das hidrelétricas. “Mas tudo isso sem que tenha havido um planejamento estrutural nesse curto prazo em que experimentamos transições tão aceleradas. Nesse sentido, precisamos repensar a forma que temos promovido essa transição, pois os custos não estão sendo alocados de forma justa entre todos os consumidores de energia”, observa Madureira, acrescentando que a transição impulsionada por subsídios a determinadas fontes de energia ou segmentos do setor elétrico provoca desequilíbrio de custos para os consumidores.

Só em 2023, os consumidores do mercado regulado já pagaram mais de R$ 20 bilhões em valores acumulados de subsídios por meio da conta de luz, de acordo com dados do Subsidiômetro da ANEEL. A quantia representa quase 13,5% na média da tarifa dos brasileiros.

Para a ABRADEE, ajustar o arcabouço legal e regulatório de acordo com a transição energética é fundamental para que a modernização do setor elétrico seja genuína e possa beneficiar todos os consumidores de forma isonômica e justa, sem distorções em que uns pagam pelos custos do sistema elétrico, enquanto outra parcela só desfruta dos benefícios. “O Brasil possui uma matriz elétrica bastante limpa e renovável. Acho que nosso principal desafio nesse momento é ampliar a eletrificação da economia de forma sustentável. Temos pela frente a eletrificação da frota de veículos, a utilização de energia mais limpa nas indústrias, que ainda dependem muito de fontes térmicas movidas a origens fósseis, e temos as residências, que a cada dia utilizam mais a energia elétrica em substituição ao gás. São exemplos reais de como ainda temos espaço para ampliar a eletrificação, mas que, para isso, ainda precisamos enxugar custos e direcionar de forma mais equilibrada e justa os investimentos no setor elétrico”, destaca Madureira.

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